Energia da Madeira no Contexto Energético Brasileiro

O uso energético da madeira

12/12/2013 02:19

    A evolução do consumo mundial de energia, baseada em combustíveis fósseis, conduziu a humanidade para uma matriz energética insegura, cara e, sobretudo, bastante negativa para o meio ambiente. Isso tem levado muitos países a considerarem a necessidade de profundas mudanças, incluindo a intensificação do aproveitamento de outras fontes energéticas, sobretudo as renováveis, incluindo-se a madeira. 

    No campo energético, a madeira é tradicionalmente chamada de lenha e, nessa forma, sempre ofereceu histórica contribuição para o desenvolvimento da humanidade, tendo sido sua primeira fonte de energia, inicialmente empregada para aquecimento e cocção de alimentos. Ao longo dos tempos, passou a ser utilizada como combustível sólido, líquido e gasoso, em processos para a geração de energia térmica, mecânica e elétrica. 
 
    Hoje, a madeira ainda continua participando da matriz energética mundial, com maior ou menor intensidade, dependendo da região considerada. Seu uso é afetado por variáveis como: nível de desenvolvimento do país, disponibilidade de florestas, questões ambientais e sua competição econômica com outras fontes 
energéticas, como petróleo, gás natural, hidroeletricidade, energia nuclear etc. O uso da madeira para energia, no contexto mundial, se evidencia nos países em desenvolvimento, conforme ilustra a . Em tais regiões, ela é um componente de vital importância no suprimento de energia primária, especialmente no uso doméstico e industrial. É nesse sentido que o seu destino como lenha soma mais da metade do volume total de madeira mundialmente consumida para todas as finalidades.
 
    A madeira, na sua forma direta como lenha ou do seu derivado, o carvão vegetal, é combustível vital para o preparo de alimento para um enorme número de famílias e comunidades em diversas regiões do planeta. Estima-se que, a cada seis pessoas, duas utilizam a madeira como a principal fonte de energia,particularmente para famílias de países em desenvolvimento, sustentando processos de secagens, cozimentos, fermentações, produções de eletricidade etc. (FAO, 2003). 
 
    O uso da madeira para energia engloba diminuir a dependência energética externa e uma maior segurança quanto ao suprimento da demanda, algo que muitos dos combustíveis hoje empregados não proporcionam. Além do mais, graças ao seu alto potencial renovável e produtivo, especialmente no caso brasileiro, pode expressar uma matriz energética ambientalmente mais saudável e socialmente mais justa, pois é uma das fontes de energia que possibilitam uma das maiores taxas de geração de emprego por recurso monetário investido.
     
 
    Faz relativamente pouco tempo que a madeira deixou de ser a principal fonte de energia primária em nosso país, quando, no século passado, ou mais exatamente durante a década de 1970, ela foi suplantada pelo petróleo e, em seguida, pela hidroeletricidade. A participação da madeira no balanço energético brasileiro veio decrescendo ao longo do tempo, sobretudo porque houve um incentivo maior para o uso de derivados de petróleo e hidroeletricidade, para atendimento das novas demandas energéticas.
 
     
   
     
 
    O espaço estratégico do uso da madeira para energia
    Conforme observado, inegavelmente a madeira ainda ocupa um papel fundamental em termos de estratégias ligadas à produção e ao uso de energia no Brasil, sendo evidente a retomada do seu consumo para tal finalidade nos últimos dez anos. No entanto, ações específicas ainda se fazem necessárias para atendimento dos seus mais tradicionais usos energéticos, que compreendem a produção de carvão vegetal, os usos domiciliar, industrial e agrícola. 
 
    Some-se a isso o fato de ainda haver um enorme espaço disponível para a valorização adicional da sua participação no panorama energético brasileiro. Isso poderia incluir, por exemplo, a complementação da geração hidrelétrica por meio de usinas termelétricas, queimando madeira produzida pelo manejo sustentado de florestas; a utilização, em áreas distantes dos campos de petróleo e das refinarias, de óleos vegetais combustíveis extraídos de plantas florestais, resultando no biodiesel; a utilização de gasogênios a lenha ou a carvão vegetal para produção de calor industrial e para o acionamento de motores; e mesmo o incentivo à utilização da lenha para cocção, nas áreas rurais, mediante pequenos reflorestamentos; e a utilização de fogões mais eficientes. Há, porém, obstáculos a serem superados, situados principalmente na área institucional e que decorrem da própria natureza dessa forma de energia.
 
    A utilização das formas concentradas de energia (petróleo, grandes hidrelétricas, energia nuclear) exige economia de escala, a criação de complexos sistemas centralizados de produção, transporte e distribuição e a realização de pesados investimentos. Isso levou a maioria dos países, incluindo o Brasil, à forte intervenção estatal e ao desenvolvimento de uma rede complexa de interações com grandes corporações privadas: fabricantes de equipamentos, grandes empreiteiras, empresas de consultoria e engenharia de grande porte etc. Essas energias criam, em âmbito setorial, seu próprio quadro institucional e seus próprios instrumentos de planejamento e gerência.
 
    Outro ponto relevante é a questão tecnológica. A experiência da siderurgia brasileira a carvão vegetal serve como exemplo de que as formas renováveis de energia só se tornam viáveis, em larga escala, se evoluírem de uma situação tecnológica primitiva e rudimentar, baseada na simples destruição das florestas, para a incorporação de tecnologias florestais mais avançadas, de formas a assegurar maior eficiência e tornarem-se ecológica e economicamente compatíveis.
 
 
    De um modo geral, a causa principal da destruição das florestas é o estabelecimento de uma estrutura econômica e industrial         baseada em modelos desenvolvidos para outras realidades nacionais, o que leva a uma ocupação inadequada do espaço físico e econômico. Nesse tipo de estrutura, ocorre uma valorização artificial da terra, que passa a ser vista como um investimento, e que deve, portanto, produzir rendimentos.   
 
     Por conta disso, na maioria das vezes, a floresta é cortada para outros fins, quando não apenas para garantir a posse da terra, simulando uma exploração produtiva. Torna-se necessário, portanto, dar um valor econômico à floresta, a fim de preservá-la, o que pode ser alcançado com a produção de madeira para energia, numa atividade contínua, planejada, sustentada e rentável, mantendo equilibrada a relação entre a proteção do recurso natural e a ordem econômica.
 
     Demandas de definições e de ações relacionadas ao uso da madeira para energia
 
    A madeira é um componente essencial no atendimento da demanda energética do Brasil, tudo indicando que isso continuará sendo predominante, com a maior parte do consumo situada nos setores de produção de carvão vegetal, domiciliar, industrial e agropecuário. 
 
    Da mesma forma, ainda há espaço adicional para que ela possa contemplar outras oportunidades de uso energético, ainda pouco atendidas em termos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e políticas públicas. Contudo, há que estabelecer ações estratégias, para que, no mínimo, as condições atuais do uso desse material possam ser mantidas. Nesse contexto, não é recente o debate sobre as necessidades de ações que possam tornar ainda mais consistente tal cenário.
 
     Nesse sentido, continua sendo extremamente relevante o atendimento de alguns pontos, os quais têm sido destacados ao longo do tempo, a saber: a) Desmistificar, retirar da marginalidade e valorizar o conceito de uso da madeira para energia; b) Melhorar a obtenção e o tratamento das estatísticas de oferta e consumo; c) Agregar a lenha como produto do manejo e do uso múltiplo da floresta; c) Incentivar o plantio de florestas de rápido crescimento para atendimento energético; d) Manejar, de forma sustentada, as florestas nativas para fins energéticos; e) Induzir a uma maior intensificação de uso dos resíduos florestais e industriais para fins energéticos; f) Induzir e estimular o pequeno e médio agricultor na missão da produção e oferta de madeira para fins energéticos; g) Organizar e otimizar a “indústria da lenha”; h) Agregar a obtenção de madeira para energia nos processos relacionados ao mercado de carbono; i) Melhorar a eficiência dos processos de conversão energética da madeira e ampliar a aplicação dos processos já existentes para tal; j) Mudar os padrões tecnológicos atuais de produção de carvão vegetal, incluindo a recuperação maciça dos gases de carbonização; k) Induzir estudos, pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos na área de aplicação de madeira para energia; l) Estabelecer programas de extensão e de educação relacionados ao uso da madeira para energia; e m) Definir políticas quanto ao uso de madeira para energia e efetivamente aplicá-las de forma conjugada, envolvendo tanto o setor florestal como o setor energético.

 
 

 

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